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Casa d'avó Madalena

Casa de uma matrafona que mora na Aldêa, passa o dia assentada no pial a dizer patochadas

Casa d'avó Madalena

Casa de uma matrafona que mora na Aldêa, passa o dia assentada no pial a dizer patochadas

Sopa de nabiças - há sempre uma primeira vez

Avó Madalena, 15.05.20

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Ainda a tentar familiarizar-me com um objecto "estranho" na boca, as refeições têm sido à base de sopa... muita sopa!

Hoje fiz pela primeira vez sopa de nabiça (um dos lados positivos de comprar o cabaz local é que recebo sempre produtos sazonais, de qualidade e alguns que não compraria se fosse eu a escolher (pela rotina e hábito não costumo variar muito). Exemplo disso são as nabiças, nunca comprei, embora goste.

Como esta semana tinha nabiças tinha 2 hipóteses: esparregado ou sopa. Fui pela sopa.

Sopa de nabiças receita testada e aprovada!!!

Ingredientes:

  • 600 gr de batata
  • 100 gr de cenoura
  • 100gr de courgette
  • 100 gr de cebola
  • 1 dente de alho
  • 20ml de azeite
  • sal q.b.
  • 300gr de nabiças
  • 1,500 l de água quente

Preparação:

  • Piquei o alho e a cebola e coloquei no tacho, juntamente com as batatas, cenoura e courgette. Juntei a água e deixei ferver (entre 20 a 25 minutos, depende do fogão, do tipo de panela) (eu costumo espetar um garfo para verificar se está cozido)
  • Triturar, juntar a nabiça (eu não corto as folhas, gosto de as encontrar grandes, mas depende do gosto de cada um), sal e deixei ferver com o fogão no mínimo. 
  • Depois de desligar o fogão, coloquei o azeite, mexi e deixei ficar um pouco mais tempo na panela.

Dá deu para 2 doses ao almoço e guardei o resto para o jantar. (gosto de fazer comida para mais que uma vez: poupo tempo e energia (minha e do fogão).

 

Sorrir...

Avó Madalena, 12.05.20

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Sorrir parece ser uma coisa natural, inata... uma troca de olhares, um toque agradável, a lembrança de uma memória ou de uma piada e os nossos olhos e a boca simplesmente descontraem e riem.

Eu não... não sorrio, programei a minha mente e a minha fisionomia a não esboçar um sorriso. Desde a infância que tenho problemas dentários e desde a mesma altura que o trauma e o pavor de dentista me leva a fugir, a desmaiar e até mesmo a morder o médico... Um horror... Mais de 20 anos sem sorrir, a fugir de fotografias, a não ter oportunidades de emprego, a ser olhado com um meio nojento... e eu compreendo.... mas dói..

Finalmente consegui juntar algum dinheiro e muita, mas muita coragem e deixei que um casal maravilhoso de dentista iniciassem um tratamento severo na minha dentição. Extracções, pontos, prótese provisória... .

Ontem, no final da consulta, e de pois de ter extraio os últimos dentes do maxilar superior, fiquei de pé, com a prótese colocada a chorar em frente ao espelho... Não consegui sorrir, não porque não sentisse a felicidade, mas simplesmente porque já não sei como é.... esboço aquele micro sorriso de boca fechada e já está..

Quem diria que teria de reaprender a sorrir? E rir? Como será rir? Gargalhar com voz alta e cheia de vontade?

É muito difícil para uma pessoa com caries ou sem dentes ter uma "vida normal", somos olhados de lado, perdemos oportunidades e a nossa auto estima não existe.

Ontem senti que estou a renascer, que quando este isolamento terminar e eu sair finalmente a sorrir, literalmente com todos os dentes que tenho na boca será como se a lagarta que há em mim, finalmente descobrisse que é uma borboleta.

Ontem também descobri o meu objectivo e missão: tentar ao máximo ajudar quem está na mesma situação que eu, procurar clínicas, orçamentos, parcerias, sponcers.. ajudar os outros a sorrir, porque depois de um sorriso e de uma boca sã, é todo um mundo de novas oportunidades que se abre para nós.

Se estás desse lado, a ler e te identificas, por favor, não desistas! Eu demorei mais de 20 anos mas hoje finalmente sei que posso rir sem ter vergonha!

 

Mai(o) the force be with you!!!

Avó Madalena, 01.05.20

Maio chegou lindo, quente, abençoado!

Sempre gostei deste mês: começa com um feriado, passa pelo Dia da Mãe e o meu aniversário!

Sim, eu adoro o dia do meu aniversário! Adoro que me cantem os parabéns, adoro os abraços, os jantares, o bolo, a companhia! O ano passado a festa foi fabulosa: 40 anos não se fazem todos os dias!! Juntei cá em casa quase 20 mulheres maravilhosas que tenho a sorte de a vida me ter trazido.

Este ano será só com o herdeiro, mas eu sei quem está comigo sempre, não fisicamente, mas sempre comigo.

A próxima semana será de reflexão pessoal, tal como eu gosto. Faço um balanço, reescrevo objectivos, e este ano agradecerei pelo que já conquistei. Este ano foi um bom ano! E o que virá também o será!

Durante a semana passada tive oportunidade de fazer um curso com a Thaís Godinho, do blog https://vidaorganizada.com/, por isso vou começar Maio e a entrada das 41 voltas ao sol com a reflexão na minha roda da vida.

Onde estou? Onde quero estar? Onde vou focar? O que me satisfaz mais? 

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Neste isolamento aprendi que "se não podes olhar para fora, olha para dentro!", para dentro de ti, mergulha no teu ser, perdoa-te, ama-te e vai sem medos.

Algo me diz que os 41 serão ainda melhores que os 40!

Em modo "tele"

Avó Madalena, 21.04.20

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Tele-trabalho, tele-escola, tele-visão, tele-móvel.... e com 4 letrinhas apenas a nossa vida transforma-se e reajusta-se.... vivemos numa bolha e tudo nos chega quase que por tele-transporte...

As aulas do herdeiro começaram ontem, primeiro estranhou, mas ao final do dia já estava mais animado. Gostou de 2 professores que nunca viu, mas que do outro lado da tela conseguiram passar uma energia tal que o herdeiro gostou das aulas e ficou motivado para uma discilplina que não era das suas preferidas. Acho que deve ser pelo amor com que se fazem as coisas, com a resiliência de cada um de nós, com as ferramentas interiores de cada um... aqueles 2 professores, sem saberem, "tocaram" num adolescente a km de distancia de forma positiva.

E Eu? Eu estou desde o dia 17 de Março em tele-trabalho e confesso que não estou a adorar (vá tens dias em que adoro e outros que gosto menos um bocado). Se por um lado é otimo porque consigo manter a rotina 9-17 e assim o tempo passa dento "da normalidade", por outro falta-me qualquer coisa...

Curioso, como por vezes desejamos coisas que afinal não queremos... quantas vezes pensei que gostava que o mundo parasse por uns instantes para eu me recompor? Quantas vezes desejar poder ficar a trabalhar em casa? No meu espaço, com as minhas coisas? Parabéns, tens o que querias... ou se calhar não era bem isto, certo?

O problema das tele-coisas é a interpretação das palavras que lês, da entoação de uma frase, da impulsividade de responder a um email sem usar filtros. Escreves de uma maneira, mas do outro lado da tela alguém coloca outra entoação e puff... desgraças acontecem e o mesmo para ti, recebes um email que lês de outra maneira e puff...

Parece que o herdeiro está a lidar com isto bem melhor do que eu, mas para uma pessoa que não "gostava de tecnologia" a coisa até está a correr bem..."O treino não pára!", certo?

 

Cozido de grão com abóbora, nabo e feijão verde

Avó Madalena, 20.04.20

 

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De volta à cozinha! Parece que passo o dia a cozinhar e a lavar loiça, quando acaba uma refeição tenho de começar a preparar a seguinte... passamos de 2 refeições por dia (em casa) para 6!

Ainda tinha nabo e feijão verde do cabaz da semana e passada... desfolhei o meu caderinho de dicas e ei-la: a receita perfeita para esta segunda feira de chuva: cozido de grão com abóbora, nabo e feijão verde! (A boa noticia é que já não tenho de fazer jantar!)

Ingredientes

  • 400g de grão-de-bico (Usei grão de conserva, o que tinha congelado acabou e ainda não cozi mais) 
  • 400g de cenoura
  • 400g de abóbora
  • 250g de feijão verde
  • 20g de hortelã
  • 20g de salsa
  • 40g de alho
  • 300g de cebola
  • 2g de sal
  • 3g de pimenta preta moída
  • 3g de cominhos
  • 30ml de azeite
  • 200ml de vinho branco
  • 300g de nabo
  • 2l água

Preparação

  1. Piquei  a cebola e o alho no azeite e colquei no tacho com vinho branco em lume brando durante 3 minutos.
  2. Seguidamente juntei o grão, a água e todos os legumes cortados (à exceção do feijão-verde). Juntei mais um pouco de água até cobrir os legumes. Juntei metade da quantidade de hortelã e de salsa picadas. Deixei cozinhar em lume brando durante mais 30 minutos.
  3. Acrescentei o feijão-verde cortado. Deixei apurar durante mais uns minutos. Desliguei o fogão e juntei as restantes ervas aromáticas picadas. 

 

Receita original: https://www.pratocerto.pt/ca-em-casa/receitas/cozido-de-grao-com-abobora-nabo-e-feijao-verde

35 dias em reconhecimento

Avó Madalena, 17.04.20

As rotinas do isolamento social estão em andamento.

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Acordo cedo (mas mais tarde do que o "normal), trato da higiene pessoal, faço a cama, visto-me e calço-me como se fosse sair,  leio ou vejo as redes sociais e às 9h em ponto estou à secretaria, pronta para o teletrabalho.

Ás 17h, desligo computador e trato das atividades da casa, do jantar, assisto a um curso de PLN (Programação Neuro Linguística), janto, arrumo a cozinha e às 21h a Internet é desligada. Ainda vejo um bocado de televisão, mas às 22h vou para cama e ainda leio umas páginas de um qualquer livro que esteja na mesa de cabeceira.

Sinto-me bem, só fico ansiosa quando tenho de sair, mas como só o faço 1 vez por semana já vou controlando melhor.

Dentro do possível, já estabeleci uma normalidade. Faço coisas que tinha vindo a adiar - por exemplo pão... das 3 vezes que fiz esqueci-me de colocar sal, mas não vou desistir de fazer um bom pão perfeito... A vida têm-me ensinado que os erros fazem parte, que feito é melhor do que perfeito!

A perfeição sempre provocou em mim um medo.... medo de não ficar como quero, medo de não falhar... muitas vezes acabei por não fazer coisas porque achava que ainda não estava preparada, que não era a altura certa... a verdade é que a altura certa é agora! Já perdi tempo demais e não vou perder mais à espera que o momento certo chegue.

Sim, confesso que o isolamento está a fazer-me olhar mais para dentro, a reconhecer em mim coisas que não sabia.

A vida deu-me limões e eu fiz uma limonada!

Tenho o sonho de ir para a Índia, fazer um retiro espiritual, meditação, reconhecimento... estou a "aproveitar" este tempo em casa para testar essa resiliência, essa vontade de estar comigo mesma. Não fui ao ashram, trouxe o ashram até mim!

 

 

 

Creme de batata doce e beldroegas

Avó Madalena, 07.04.20

No livro de receitas diz que  é "para dias de festa".Hoje é dia de festa. Cada dia que passo saudável e que a minha família e amigos também estão bem é dia de festa!

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Já perdi a inspiração para fazer menu semanal, parece que os dias vão passando em função das refeições que se fazem e que se comem. Hoje (tal como ontem) apetecia-me qualquer coisa nova.

A prateleira da cozinha está cheia de livros de receitas e dicas, mas tudo parece complicado ou falta sempre um qualquer ingrediente. Fui ao site do Prato Certo e bati o olho nesta receita com beldroegas: https://www.pratocerto.pt/ca-em-casa/receitas/creme-de-batata-doce-e-beldroegas

Saiu um creme roxo, devido a um pequeno "problema técnico" - utilizei batata doce roxa e o creme ficou arroxado. 

O importante é que ficou cremoso e muito bom.

(Amanhã é dia de ir buscar o cabaz!!!!)

 

Seria apenas mais uma ida ao supermercado...

Avó Madalena, 01.04.20

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Hoje foi dia de "furar" a quarentena para ir fazer umas compras. Segui a rotina do costume: verificar o stock, ver as ementas, fazer a lista, preparar os sacos, os cartões! Parecia tão fácil...

Até ao momento em que tive de me preparar para sair.. as pernas tremeram, a garganta fechou, o coração tentou saltar do peito e as lágrimas escaparam.... por instantes senti-me bloqueada... medo, pânico de ter de ir ao supermercado. Na minha cabeça a loja compara-se a um campo minado: desviar-me dos outros clientes, tocar o mínimo possível nas coisas, manter distancia de segurança, não me esquecer de nada porque não sei quando voltas, não coçar a cara, não mexer nos óculos,  desinfectar as mãos.. serei capaz de fazer todos os passos necessários? Limpar-me o suficiente para não deixar o vírus entrar na minha casa? Não colocar o meu filho em perigo? 

Quem diria que uma situação normal, vulgar me causaria tanto transtorno? 

Não foi um momento fácil... 

Depois de uma chamada para uma amiga, acalmei, enchi-me de coragem (e lágrimas) e lá fui eu.... pernas a tremer, vontade de vomitar, tonturas... a espera na fila, o segurança a controlar entradas e saídas, as prateleiras vazias.... foi uma experiência horrível.... MAS, sobrevivi, consegui fazer quase tudo o que me tinha proposto. 

(Infelizmente esqueci-me de ir à farmácia.... mas isso será outra etapa)

 

E quando um vírus te obriga a abrandar?

Avó Madalena, 26.03.20

O mundo lá fora está de pantanas... dentro de casa reina a calmaria... demasiado calmo, demasiado anormal...  Lido com esta quarentena tal como todas as vizinhas... tento transparecer a calma e quilibrada, manter a rotina possivel, só para não assustar  o herdeiro...

Como se explica a uma criança ou a um adolescente ou até mesmo a um idoso teimoso que lá fora está um inimigo invisível e mortal? Como se lida com a angustia e a insegurança de ter de ir comprar comida e não saber se desinfectei bem as mãos, a roupa ou as compras? Como permanecer calma quando o teu filho está fechado em casa, supostamente protegido e tu de 8 em 8 dias tens de ir buscar fruta e legumes? 

Os pensamentos são os mesmos: desfeiteei-me bem? Comprei tudo o que precisava? A conta da água e luz vai subir? Estarão os meus pais a cumprir o isolamento social ou são daqueles "idosos" que acham que nada lhas acontece? Será este sacrifício em vão?

Tento não pensei, fingir que tudo está bem e vai ficar bem... aqu, dentro desta bolha... mas, e lá fora? 

 

De volta a casa

Avó Madalena, 21.05.19

Estive ausente de casa, ausente de mim, perdida algures numa rotina estranha, desgastante e nada produtiva.. Infelizmente tenho várias fases destas, felizmente encontro-me sempre pelo caminho.

Faz parte de mim esta procura constante, esta necessidade de encontrar algo que nem sei bem o que é. Mas a parte boa destas andanças é que quando volto a casa, volto sempre mais crescida, mais sábia, mas certa do meu caminho.

Procuro um propósito de vida, aquela combustão louca que me faz levantar de manha, viver, ao invés de sobreviver. Saber o propósito e desenhar o plano. E quando me encontro mais perto, sinto-me mais eu, mais organizada física e mentalmente e todas as outras áreas espelham isso.

Desta vez a viagem foi longa, despi-me de crenças e conceitos, aceitei sair da zona de conforto e olhar mais longe. E de longe vejo o perto e sinto-me viva. Sinto que algumas coisas não fazem mais sentido, não me trazem alegria ou prazer, não me fazem falta. Esta viagem é um processo de redescoberta que ainda agora começou, mas que já me está a melhorar, para o bem e para o mal, as decisões estão tomadas de modo muito consciente. 

Sou feliz comigo e estou feliz por mim. A minha casa, o meu lar, também espelha isso, também está a transformar-se e a livrar-se de memórias e tralhas que impedem coisas novas de entrar. Começa a existir espaço vazio, espaço livre que não quero ocupar, porque gosto da sensação de leveza e liberdade que me transmite. 

Estou a mudar-me e estou feliz com isso. Não sei o caminho a tomar, mas sei o que não devo mais perseguir. Estou numa fase em que o universo e eu estamos em sintonia e estamos a chegar "lá", ao lugar que não é mais sonho ou projecto. A minha realidade começa a sair do papel e a tomar vida. 

Estamos no caminho certo, estamos finalmente em casa!