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Casa d'avó Madalena

Casa de uma matrafona que mora na Aldêa, passa o dia assentada no pial a dizer patochadas

Casa d'avó Madalena

Casa de uma matrafona que mora na Aldêa, passa o dia assentada no pial a dizer patochadas

Domingo

Avó Madalena, 25.11.13
Ontem foi dia de Cãominhada! O passeio de cachorros e donos que o Canil de São Francisco promove anualmente para angariar comida e mantas para os nossos amigos patudos.
A Natasha superou muito as minhas expectativas, mesmo ceg foi sempre a par com os outros, portou-se muito bem e sempre muito feliz. Fico contente de saber que  minha velhota continua com alguma qualidade de vida e que sente que o seu papel é muito importante na nossa família.
O M andava todo babado com ela e fez uma balão super fofo: "Muitas felicidades, minha querida Natasha!".
A caminhad foi muito boa, fizemos uma actividade em familia, ao ar livre e gratuita.
Para o ano há mais!

De volta

Avó Madalena, 18.11.13
Agora que a medicação me estabilizou chegou a hora de retomar as minhas tarefas. Realiza-las faz-me sentir bem, uma sensação de posso e consigo, satisfação e orgulho no trabalho que fiz.
2ª feira - retirar do quarto as coisas que não pertencem lá (o cesto da roupa, chinelos, ...)
3ª feira - organizar as gavetas do armário
4ª feira - arrumar os sapatos
5ª feira - limpar a mesa de cabeceira
6ª feira - fazer a cama de lavado
No fim de semana vou tentar fazer umas telas para o quarto. Apetece-me mudar um pouco as paredes nuas. Uns tapetes novos também fica
vam bem, mas vou esperar pelo Pai Natal ou por uma boa promoção.

Depois da tempestade...

Avó Madalena, 12.11.13

Depois de um surto psicótico que resultou em várias idas ao hospital, 32 dias de baixa e várias medicações de rebentar estomago e cerebro, eis-me aqui, a subir nas canelas e a agarrar a minha vida.

Esta fase difícil que atravesso é o culminar de 8 anos de sofrimento, solidão e silêncio, o explodir de sentimentos amargos, raivosos, conflituosos. Perdi-me, quase enlouqueci mas a ajuda chegou (espero eu) a tempo.

Já retomei algumas rotinas, a medicação está a fazer o efeito desejado, mudei de visual, aproximei-me de pessoas boas (as menos boas foram embora sem convite). Perdi contactos que me eram importantes, mas no final talvez eu que lhes desse uma importancia que não tinham, as boas vizinhas ficaram ainda melhores e outras surpreenderam-me pela positiva. Vizinhas desse lado que nada sabem de mim mas que têm o cuidado de perguntar como estou e a animar-me, vizinhas que sem saber me deram e disseram muito - a elas a minha imensa gratidão.

Á minha família um pedido de desculpa pelo sofrimento que lhes causei (e causo), por ter posto em causa o seu amor e o meu papel nas suas vidas, desculpa pelas feridas que tiveram de tratar, pelas horas no hospital ou ao telemóvel a ouvir me chorar sem nada poderem fazer.... sofro e faço sofrer, sofro por não conseguir e faço sofrer por causar impotência. As minhas desculpas, de coração...

Nunca quis magoar ninguém, simplesmente não encontrei forma de libertar esta dor, esta solidão....  sorri quando quis chorar, calei quando queria gritar, fugi quando queria viver....do lado de fora deste corpo sei que dificilmente compreendem o que vai na minha mente, a vontade que dá de simplesmente desistir, virar costas a tudo... depois vem a lucidez que te diz que como mãe, filha, irmã... és egoísta, só conheces o teu umbigo e não reconheces a sorte que tens. Não valorizas o teu filho, os teus pais, a tua casa o teu emprego.... mas esse reconhecimento não me faz mais feliz, muito pelo contrário, faz me sentir uma idiota sentimentalmente cega....e ficas assim, nesta bola de neve. 

Hoje é um novo dia. Ontem já passou e só posso aprender com ele, amanha, amanha logo veremos.