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Casa d'avó Madalena

Casa de uma matrafona que mora na Aldêa, passa o dia assentada no pial a dizer patochadas

Casa d'avó Madalena

Casa de uma matrafona que mora na Aldêa, passa o dia assentada no pial a dizer patochadas

Encaixotar a vida

Avó Madalena, 12.10.15

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 Este fim de semana foi muito pesado a nível sentimental.... regressar à casa  que durante algum tempo foi a "nossa" casa, o nosso primeiro espaço onde desenhamos os primeiros planos. Foi altura de regressar à terrinha e começar a encaixotar o passado... 

Lembro-me bem quando me mudei para lá.... da alegria, da esperança, os planos, a felicidade em colocar cada coisa no seu lugar em descobrir nas lojas e feiras pequenos objectos que nos iriam acompanhar a testemunhar aquela que seria a nossa vida.

Algumas coisas retomaram o seu espaço inicial: a casa dos meus pais, foram de lá que saíram e para lá voltaram... mas desta vez foi uma mudança magoada e sem grande vontade para redecorar o que foi o meu quarto durante 22 anos e que agora voltará a ser o meu espaço cada vez que voltar às origens....

Foi difícil, mas a primeira parte já está. Ficaram os moveis e os livros para uma próxima visita, a ultima. E com ela fecho esse capitulo.

Quando compramos casa ooptamos por trazer algumas coisas mas na maioria compramos mais coisas, outro estilo, mais planos, mais ideias. Esta seria a nossa ultima mudança, a ultima casa e seria decorada com todo o amor possível, seria a casa onde iriamos criar o nosso filho e fazer as obras que tanto sonhamos. Era ali que eu me via feliz. Dei o meu melhor, mas não consegui construir um lar e agora tenho objectos, livros e moveis que terei de me desfazer.... mas o que me custou mais foi pensar que nunca mais terei uma casa minha.

Nunca vivei em casas alugadas, sempre tive o que se chama de habitação permanente (e supostamente para sempre), sou de hábitos, de rotinas, gosto do meu espaço e agora que terei de alugar um espaço sinto-me vazia... 

Como se constrói um lar num espaço que não é nosso? Como se escolhe uma decoração para uma coisas provisória? O meu futuro vai passar por andar de caixas de um lado para  outro?

Eu sei que a maioria das pessoas moram em casa alugadas e fazem mudanças e recomeçam e compram e vendem e revendem e montam e desmontam a mobília e são felizes, mas eu não sei fazer isso. Gosto de me sentir em casa, preciso da sensação de pertença, da segurança.

Numa casa alugada não podes ter muitas coisas, porque cada vez que mudas tens de encaixotar....

Acho que estou a ser imatura e demasiado materialista. A vida e a felicidade não dependem de coisas físicas, dependem do amor e das relações, mas isto tudo é uma novidade para mim e eu sinto-me a rodopiar e a ficar tonta

Eu sei que nada é para sempre, mas assim a sensação de efemeridade é ainda mais forte. E eu fico insegura, sem vontade de desempacotar ou de emcapotar. Já consegui doar e colocar algumas coisas à venda, por isso começo a trilhar o caminho

Metade de uma casa já esta, falta a outra metade e a casa onde vivemos agora que falta empacotar todinha e vender.... 

Sinto-me claustrofóbica, rodeada de caixas, com a vida suspensa... eu sei que é só uma casa, que o lar somos nós e não as paredes que nos abraçam, mas ainda assim não posso deixar de pensar que uma vida, se resume a umas quantas caixas de cartão com una cacarecos lá dentro...

Como é que as vizinhas lidam ou lidaram com isto? Qual o segredo do desapego