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Casa d'avó Madalena

Casa de uma matrafona que mora na Aldêa, passa o dia assentada no pial a dizer patochadas

Casa d'avó Madalena

Casa de uma matrafona que mora na Aldêa, passa o dia assentada no pial a dizer patochadas

Plano semanal

Avó Madalena, 22.04.14

Não tem sido fácil gerir o papel de mãe, esposa, trabalhadora, artesã, estudante, ... claro que ter abandonado a medicação também não ajudou em nada. Digamos que nos últimos tempos tenho estado intragável, insuportável e tudo o que comece por in... Ontem a terapia foi como um bela chapada, fiquei envergonhada com as minhas falhas, os erros que cometo, a forma deliberada como muito vezes magoo os outros. Tenho estado impulsiva, agressiva e mesmo como tento dizer um acoisa simpática sou dura e fria. 

Preciso mudar, preciso aprender a contar até 100, as pessoas que me rodeiam não têm culpa da minha frustração. Caí, mas está na hora de me levantar, de pedir desculpa, tomar rédias da minha vida. 

Como o meu estado de espírito também depende da organização e limpesa da casa, esta semana vou focar-me no meu quarto (quem sabe se as insónias não será causadas pelo caos em que o mesmo se encontra - roupa no sofá, mesa cheia de papelada, cesto da roupa para engomar num canto).

2ª feira - Arrumar as coisas nos seus sitios
3ª feira - Eliminar as pilhas de roupas
4ª feira - Limpar e organizar a secretária
5ª feira - Limpar debaixo da cama
6ª feira - Fazer cama de lavado (aproveitar para retirar uns cobertores e lava-los - já ficam prontos para o proximo inverno)p

O medo

Avó Madalena, 15.04.14
Quando decidi voltar a estudar, senti-me importante, decidida, orgulhosa.. mas hoje tenho medo... medo de falhar, medo de não ter boa nota.
O trabalho deve ser entregue daqui a umas horas e eu ainda não o comecei, as coisas não começaram da melhor forma, a pesquisa não teve o resultado que deveria, mas ainda assim eu deveria ser capaz de dar a volta por cima, de contornar os obstáculos e fazer deles os pontos fortes do projecto.
Nunca escrever uma critica me custou tanto.. tenho medo de falhar, de já não ter o vocabulário adequado, não tenho citações para fazer ( e nós sabemos como os professores adoram citações).
Não sei por onde começar. 
O medo está mais uma vez a prender-me e eu a deixar. 

...

Avó Madalena, 07.04.14

Hoje deparei me com uma situação que me transtornou imenso... num dos caminhos diários e rotineiros saltou-me á vista um monte de lixo, que para além de estar longe dos caixotes, não estava lá no dia anterior.. chamou-me a atenção, não sei bem porque... parece que me atraia...dei meia volta e parei o carro.

Sai nas calmas e meio envergonhada de me verem a cuscar o lixo alheio, mas aquele não me parecia um lixo normal...

Como tinha chovido, só consegui atirar uns olhares furtivos por entre os vestígios de uma vida... fotografias, cartas, livros, malas, algumas roupas e bens pessoais... a lixeira parecia querer dizer "morri e deitaram-me para aqui", Ali terminou uma vida cheia de aventuras e desventuras, fotos de sorrisos misturadas com revistas antigas.. muitos livros escolares de histórias, uns óculos graduados, uma pequena pochete.... um leque mais ali... debaixo de um velho cortinado mais fotografias, mais sorrisos, mais cartas... o lixo contava me uma história... uma história que terminou abandonada na berma de uma estrada, á chuva...

Quantas histórias ficaram por contar, quantos segredos calados para sempre.... será que também vou acabar assim? Que as coisas que guardo com amor e que contam a minha história também serão atirados para o lixo?. Não servirão os meus livros para outros leitores? As minhas roupas para quem delas mais precisar? E o sofá? ninguém o vai querer? Os meus netos nunca conhecerão o rosto dos antepassados, mesmo que não saibam os nomes ou as histórias de vida? Termina-se assim? Num abandono repugnante na valeta de uma estrada, á chuva... Não ensinamos nada a ninguém? Nem uma alma foi tocada por aquele ser que foi despojado dos seus bens mais íntimos ali, á chuva?

Eu sei que o desapego é importante, o material é supérfluo, mas algumas peças podem ajudar outros, os livros podem ser doados a instituições, bibliotecas... assim, abandonado  parece que nunca existi... nunca chegarei a saber quem era o dono de tais pertences, mas ficara para sempre marcado a leviandade com que foi despojado e abandonado na berma de uma estrada

Plano semanal

Avó Madalena, 07.04.14

Os tempos têm andado agrestes, a casa negligenciada, mas em compensação fiz um curso profissional pós laboral e sinto-me com energias para desenhar um novo projecto.

Respirar fundo, tomar um chá de camomila e "subir na carroça". Há que retomar as rédeas da casa e tratar das limpesas da primavera (que este ano vai ser surpresa).

 

Esta semana o foco será na cozinha

 

 

2ª feira - despejar os cestos do lixo e lava-los
3ª feira - limpar as bancadas
4ª feira - limpar o lava loiça (com escova de dentes velha e vinagre). Dia de limpar o frigorifico
5ª feira - limpar torradeira, microondas, máquina de lavar loiça, forno.
6ª feira - varrer o chão e lavar com a esfregona
Se o tempo permitir, aproveito que os dias são maiores e limpo os vidros e troco os cortinados da cozinha.

A generosidade.

Avó Madalena, 02.04.14

Estará a generosidade obsoleta ou em vias de extinção? Extinta julgo que não, mas deturpada está certamente. 

Generosidade é a virtude em que a pessoa  tem quando acrescenta algo ao próximo. Generosidade se aplica também quando a pessoa que dá algo a alguém tem o suficiente para dividir ou não. Não se limita apenas em bens materiais. Generosos são tanto as pessoas que se sentem bem em dividir um tesouro com mais pessoas porque isso as fará bem, tanto quanto aquela pessoa que dividirá um tempo agradável para outros sem a necessidade de receber algo em troca.

A minha questão recai exactamente no ponto em "sem a necessidade de receber algo em troca" - aqui reside as minhas dúvidas. Ultimamente tenho tido a graça de receber dos outros muitos gestos de generosidade, no entanto alguns deles ficam sujeitos a "pequenos favores" ou trocas, outros estou constantemente a ouvir que ajudaram, que deram se si só por dar mas de algum modo exigindo o reconhecimento do acto e um constante pedido de obrigado. Assim não é ser generoso. Como posso dar de mim de forma pura e desprovida de qualquer coisa em troca e depois ir sublinhando que fizeram, deram... eu mesma faço isso... consciente ou inconsciente mente já ajudei e depois "esfreguei" na cara que ajudei... e isso não se faz ou não se deve fazer nunca! 

Onde fica a generosidade se eu apenas me dou para ser reconhecida? Onde fica a felicidade de ver o outro feliz se depois vou dizer que eu que o fiz feliz? Generosidade não é nada disso, é um gesto de amor quase anónimo. Fica grata, pois fico eternamente grata, mas também fico com uma divida eterna para com quem é "generoso".

Actualmente vivemos com uma generosidade hipócrita, e esta é a realidade, eu ofereço-te um cabrito, mas pretendo ir janta-lo contigo. Convido-te para jantares em minha casa, mas depois espero ser convidado para a tua. Arranjei-te emprego e enquanto estiveres ai, vou sublinhar que se tens ordenado é graças a mim. Pago-te o lanche e depois digo que a coitadinha não tinha e eu que tive de pagar .... sejamos honestos e sinceros. Generosidade é dar e esquecer que deu, pronto. Sem compromisso, sem cobrança. Um exemplo vivo são os nossos "famosos" a dar a casa por eventos solidários... mas vestirão mesmo a camisola? Ou será para aparecer nos media? E os que no final recebem um cheque pela "presença"

Será assim tão difícil? Será a necessidade de protagonismo assim tão grande que eu tenha de ser pseudo generosa só para depois ter mais um assunto para falar? Isso não é ser amigo, não é ser generoso isso é ser capataz.

Mas tenho de agradecer aos inúmeros gestos de generosidade pura, de pessoas anónimas e outras conhecidas, verdadeiros gestos de pureza e de amor. Existe ainda generosidade no sentido real.

...

Avó Madalena, 01.04.14

Acho que ao contrário de grande maioria eu escrevo mais quando estou mais em baixo, quando me apetece gritar com o mundo e não posso.

Não sei se é pela mudança da hora ou pela chuva, mas a verdade é que nos últimos 3 dias tenho acordado muito tarde, cansada, stressada. Vou para o trabalho atarantada, com a casa num pandemónio.... para ajudar a chuva trouxe de volta o estendal para a sala. Digamos que o panorama está lindo!

Também sei que me estou a lamuriar mas que não devia, o Projecto Páginas Tantas está a correr bem, a medicação já me deixa dormir novamente (demais porque agora acordar antes das 7h é impossível e mesmo antes das 8 tem sido frustrado....). A formação corre bem, o curso livre na Universidade do Algarve foi 5 estrelas.., mas mesmo assim, hoje apetece-me deitar cá para fora, assim as palavras cuspidas deixam de ecoar na minha cabeça e ficam na tela do computador.

Acho que a minha terapeuta tem razão: eu tenho uma necessidade enorme de controlar tudo, e não consigo... não consigo impedir que chora, que as horas passem, que as pessoas não correspondam ao que esperamos, que o nosso corpo não tenha mais 20 anos. Não dá para controlar e pronto! Na prática e dito por ela parece me mais fácil mas na vida real não é nada disso... fico irritada, frustrada, agressiva, resmungona e afins....

Mas agora chega de ruindade, vou tomar um chá e caminha. O Irvine Welsh e o seu Trainspotting vão adormecer na minha cama

e amanha... amanha é um novo dia, logo se vê. Com sorte começa tudo de novo, mas como temos a aula de yoga ao final da tarde, garantidamenteque o fim do dia será zen.