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Casa d'avó Madalena

Casa de uma matrafona que mora na Aldêa, passa o dia assentada no pial a dizer patochadas

Casa d'avó Madalena

Casa de uma matrafona que mora na Aldêa, passa o dia assentada no pial a dizer patochadas

35 dias em reconhecimento

Avó Madalena, 17.04.20

As rotinas do isolamento social estão em andamento.

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Acordo cedo (mas mais tarde do que o "normal), trato da higiene pessoal, faço a cama, visto-me e calço-me como se fosse sair,  leio ou vejo as redes sociais e às 9h em ponto estou à secretaria, pronta para o teletrabalho.

Ás 17h, desligo computador e trato das atividades da casa, do jantar, assisto a um curso de PLN (Programação Neuro Linguística), janto, arrumo a cozinha e às 21h a Internet é desligada. Ainda vejo um bocado de televisão, mas às 22h vou para cama e ainda leio umas páginas de um qualquer livro que esteja na mesa de cabeceira.

Sinto-me bem, só fico ansiosa quando tenho de sair, mas como só o faço 1 vez por semana já vou controlando melhor.

Dentro do possível, já estabeleci uma normalidade. Faço coisas que tinha vindo a adiar - por exemplo pão... das 3 vezes que fiz esqueci-me de colocar sal, mas não vou desistir de fazer um bom pão perfeito... A vida têm-me ensinado que os erros fazem parte, que feito é melhor do que perfeito!

A perfeição sempre provocou em mim um medo.... medo de não ficar como quero, medo de não falhar... muitas vezes acabei por não fazer coisas porque achava que ainda não estava preparada, que não era a altura certa... a verdade é que a altura certa é agora! Já perdi tempo demais e não vou perder mais à espera que o momento certo chegue.

Sim, confesso que o isolamento está a fazer-me olhar mais para dentro, a reconhecer em mim coisas que não sabia.

A vida deu-me limões e eu fiz uma limonada!

Tenho o sonho de ir para a Índia, fazer um retiro espiritual, meditação, reconhecimento... estou a "aproveitar" este tempo em casa para testar essa resiliência, essa vontade de estar comigo mesma. Não fui ao ashram, trouxe o ashram até mim!

 

 

 

Seria apenas mais uma ida ao supermercado...

Avó Madalena, 01.04.20

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Hoje foi dia de "furar" a quarentena para ir fazer umas compras. Segui a rotina do costume: verificar o stock, ver as ementas, fazer a lista, preparar os sacos, os cartões! Parecia tão fácil...

Até ao momento em que tive de me preparar para sair.. as pernas tremeram, a garganta fechou, o coração tentou saltar do peito e as lágrimas escaparam.... por instantes senti-me bloqueada... medo, pânico de ter de ir ao supermercado. Na minha cabeça a loja compara-se a um campo minado: desviar-me dos outros clientes, tocar o mínimo possível nas coisas, manter distancia de segurança, não me esquecer de nada porque não sei quando voltas, não coçar a cara, não mexer nos óculos,  desinfectar as mãos.. serei capaz de fazer todos os passos necessários? Limpar-me o suficiente para não deixar o vírus entrar na minha casa? Não colocar o meu filho em perigo? 

Quem diria que uma situação normal, vulgar me causaria tanto transtorno? 

Não foi um momento fácil... 

Depois de uma chamada para uma amiga, acalmei, enchi-me de coragem (e lágrimas) e lá fui eu.... pernas a tremer, vontade de vomitar, tonturas... a espera na fila, o segurança a controlar entradas e saídas, as prateleiras vazias.... foi uma experiência horrível.... MAS, sobrevivi, consegui fazer quase tudo o que me tinha proposto. 

(Infelizmente esqueci-me de ir à farmácia.... mas isso será outra etapa)

 

...

Avó Madalena, 08.07.14
Dormi mal, acordei tarde, corri, stressei, explodi... cheguei perto do trabalho parei o carro e fiquei assim longe e perto parada dentro do carro sem coragem para ir trabalhar. Cada vez que penso que tenho de voltar aquele sitio falta-me o ar, transpiro das mãos, fico enjoada, com dor de cabeça...
De dia para dia piora, fica mais difícil lidar com esta ansiedade, esta luta diária que me cansa...
... sinto-me cansada, pensava mesmo que estava a melhorar da depressão, já não estava a tomar a medicação, sentia-me forte, pronta. Mas enganei-me, foi só mais um dos picos de alegria que se foi com mais rapidez do que veio...e este infelizmente não veio para ficar.
Se calhar, esta é a hora de admitir que o TOC é real e que me controla mais do que eu a ele...